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sábado, 27 de maio de 2006

Epidemias globais Defesa Fitossanitária –

É atribuição da defesa sanitária ou agropecuária, a vigilância, controle e inspeção de animais e vegetais,monitorar e controlar pragas, inventariar populações animais e vegetais, realizar campanhas educativas deconscientização, elaborar planos de contingência. No Brasil, o órgão responsável pela defesa agropecuária é oMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através da sua Secretaria de DefesaAgropecuária (SDA) e seus respectivos departamentos.Um sistema de defesa atuante e moderno pautado em medidas compatíveis com orisco e nível adequado de proteção se faz necessário frente à rápida e intensamovimentação de pessoas e do comércio. O volume e diversidade global docomércio vêm contribuindo também para a chamada bioglobalização de pragas,que é o deslocamento de organismos de uma região para outra, inadvertida ouintencionalmente, o que pode levar a prejuízos incalculáveis. O último casodenomina-se, também de agro ou bioterrorismo.O aumento de consumo por parte da sociedade moderna de produtos agrícolastambém está contribuindo para as ocorrências da bioglobalização de pragas. Acriação massiva de rebanhos para a alimentação humana, aproximadamente 21bilhões de cabeças atualmente, com aumento de 65% nas últimas quatro décadase o desmatamento de florestas nativas favoreceu o surgimento de inúmerasdoenças como a gripe asiática do frango, a Encefalopatia Espongiforme Bovina(BSE) ou mal-da-vaca-louca. Apenas na Inglaterra, mais de 200.000 cabeças degado foram sacrificadas por apresentarem BSE. A doença mutante nos humanos,resultante da ingestão de carne infectada com BSE, já causou a morte de 122pessoas até fevereiro de 2003, de acordo com informações disponíveis na mídiaeletrônica.Pragas introduzidas em novas áreas estão custando atualmente à sociedademoderna direta e indiretamente US$ 6 bilhões/ano em perdas na produção eprodutividade, adoções de medidas de controle, desemprego, citando apenasalguns fatores. Em estimativas feitas pelo governo americano, 43 insetosinvasores exóticos, no período de 1906 a 1991, causaram prejuízos de US$ 925bilhões aos cofres públicos. Nos últimos anos, apenas cinco grupos de insetos,foram os responsáveis por US$ 3 bilhões/ano.Para as associações de cotonicultura americanas, no sistema produtivo dealgodão, no ano de 2002, os prejuízos somaram US$ 1,2 bilhão/ano provocadospor alguns poucos insetos. As perdas totais nessa cultura causadas por essesinsetos foram de 4,79%, o que provocou aumentos de US$ 60,67 por acre naadoção de medidas de controle e de US$ 88,80 por acre, considerando custos eperdas.Levantamentos realizados por pesquisadores internacionais revelaram que, nosúltimos 50 anos, mais de 11.000 espécies invasoras entraram no Brasil, entre asagrícolas e ambientais.Os problemas acima apresentados nos levam a refletir sobre os grandes desafios aserem vencidos no setor agrícola no Brasil. A defesa agropecuária, a inovação, aciência e a tecnologia devem colocar o país em situação favorável frente aocomércio internacional que, por sua vez, busca cada vez mais alimentos semriscos para a saúde humana e ambiental.Em termos mundiais, o Brasil ocupa atualmente a nona posição quanto àexpectativa de crescimento econômico. Essa posição deve ser alterada à medidaque avança, conquista e mantêm novos mercados, tornando o país altamentecompetitivo no cenário mundial. Nos últimos anos, de acordo com o MAPA, abalança comercial do agronegócio vem apresentando por ano um superávit médiode crescimento de 20%. Isso pode ser observado na balança comercial deexportação, dos últimos doze meses, período correspondido entre setembro de2003 a agosto de 2004, no valor de US$ 37,408 bilhões, 27,2% acima do períodocorrespondente a setembro de 2002 a agosto de 2003. Os responsáveis pelaexportação foram o complexo-soja, carnes, papel e celulose, destacando aindacereais, farinhas e preparações.O MAPA, por meio das ações de inspeção, vigilância e defesa e a Embrapa em seusprogramas de manejo integrado de pragas e de melhoramento genético muitovêm contribuindo para diminuir os problemas sanitários no Brasil, sendo quemuitas pragas foram barradas de entrar e as que foram introduzidas sofreramações rápidas de controle. Apesar disso, várias outras pragas de grande expressãoeconômica conseguiram entrar e se estabelecer, mostrando que muito aindaprecisa ser feito para melhorar as condições sanitárias no Brasil.A introdução do bicudo do algodoeiro, na década de 1980, levou à queda deprodução de algodão, principalmente na região nordeste do país, gerando umacatástrofe social. O desenvolvimento de cultivares pela Embrapa adaptadas aoutras condições climáticas, associado ao manejo integrado de pragas, estáfazendo com que o país, ainda que timidamente, volte a exportar esse produto. Deacordo com o MAPA, no período de setembro de 2003 a agosto de 2004, aexportação de algodão e de outras fibras têxteis vegetais correspondeu a 33,2% ea importação, 31,6%.A entrada e dispersão recente da sigatoka negra da bananeira, que entrou pelaVenezuela ou pela Colômbia, a mosca-da-carambola vinda, provavelmente daGuiana Francesa, a mosca-negra-dos-citros proveniente do Caribe, a ferrugemasiática da soja, proveniente do Paraguai, além de outros exemplos já ocorridosno Brasil, como a mosca-branca, nematóide do cisto da soja, vírus da tristeza docitros, cancro-cítrico, ferrugem do cafeeiro, vespa-da-madeira, são apenas algunsdos organismos presentes, atualmente, nos sistemas agrícolas de forma localizadaou dispersos nos sistemas agrícolas. Outro exemplo a ser dado e que não deve seresquecido de introdução e conseqüente estabelecimento da praga, é o davassoura-de-bruxa. O Brasil passou do segundo produtor mundial de cacau, em1985, com uma produção de 500.000 toneladas para um quarto da produção daCosta do Marfim, no ano de 2000. Da mesma forma, o psilídeo de concha queafeta o setor florestal e foi introduzido recentemente poderá ter seu efeitodiminuído pela descoberta de um inimigo natural dessa praga, em solo brasileiro.A criação massal desse agente de controle por parte da Embrapa, para liberaçãoem áreas infestadas pelo psilídeo já se iniciou.Apesar de inúmeras pragas já terem sido introduzidas no Brasil, outras centenas,ainda podem entrar e estabelecer. Em levantamentos recentes realizados peloLaboratório de Quarentena Vegetal (LQV), da Embrapa Recursos Genéticos eBiotecnologia, observou-se que aproximadamente 1.000 insetos podem colocarem risco a agricultura brasileira. Essas e outras pragas ou espécies invasorasexóticas podem afetar o valor agronômico e florestal de produtos, elevar custos decontrole, diminuir a qualidade e quantidade de alimentos disponíveis a sociedade,contaminar o meio-ambiente, entre outros fatores, tirando o país da competiçãodo comércio internacional.Nesse campo, a Embrapa, por meio das suas estações de quarentena vegetal eanimal, credenciadas pelo MAPA e das Redes de Pesquisa em Sanidade Animal eVegetal vem contribuindo para a interceptação de pragas, introdução de inimigosnaturais para o controle das pragas introduzidas e o desenvolvimento demetodologias para a erradicação, contenção e supressão de pragas potenciais e deperigo imediato. Nos últimos anos, o LQV interceptou e identificou mais de 100pragas exóticas de expressão econômica e quarentenária, para o país. O valordessas interceptações para o setor agrícola é incalculável.O desenvolvimento de pesquisas técnico-científicas para a implantação de medidasde segurança biológica para a defesa agropecuária brasileira deve ser prioridadedo governo federal. Além disso, a implementação de diretrizes no sistema deprodução agrícola brasileiro em conformidade com os padrões fitossanitáriosinternacionais pode adicionar vantagens comparativas aos nossos produtos, aomesmo tempo em que promove o mercado de exportação. Essas ações poderãoser vistas pelos nossos parceiros e competidores comerciais como contribuiçõesque vão além da economia agrícola e também se estendem à proteção dabiodiversidade e à sociedade de modo geral, tornando os nossos produtos melhoraceitos pelos mercados internacionais.Maria Regina Vilarinho de Oliveira

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