Em 1878, o míldio da videira, doença originária dos Estados Unidos e causada pelo fungo Plasmopara viticola, instalou-se inadvertidamente nos pomares franceses. Naquela época, conheciam-se apenas produtos químicos de ação preventiva, ou seja, somente protegiam a cultura se fossem aplicados antes da penetração do fungo, caso contrário, de nada adiantava a sua aplicação. Os produtores de uva, por se tratar de uma doença nova, nada sabiam a respeito e, desesperados, passaram a pulverizar os parreirais, quase que semanalmente, com os produtos químicos conhecidos até então. Como conseqüência do uso indiscriminado, passaram a se tornar comuns as intoxicações dos produtores pela exposição aos agrotóxicos, assim como os gastos excessivos com a sua compra, o que encarecia a produção da uva, sem resultados satisfatórios. Porém, já no final do século passado, dois fitopatologistas franceses, Louis Etienne Ravaz (1863-1937) e J. Capus, tiveram a idéia de pesquisar o ciclo biológico do fungo causador do míldio da videira, registrar a época do ano mais propícia e as condições climáticas mais favoráveis para o aparecimento da doença e, com base nestes dados, alertavam os produtores de uva para o momento mais adequado de pulverização dos pomares. Visavam com isso racionalizar e reduzir as aplicações de agrotóxicos e, conseqüentemente, o número de intoxicações, reduzir o custo de produção, melhorar a qualidade do produto e proteger o meio ambiente. Seus trabalhos, inicialmente, ficaram restritos à região de Bordeaux e Montpellier e, com o passar do tempo, abrangeram não apenas o míldio, mas também a podridão da videira e organismos prejudiciais. O sucesso foi tão grande e os resultados tão satisfatórios, graças à participação dos produtores rurais franceses que aprovaram a idéia e passaram a cooperar com os técnicos da defesa sanitária vegetal, que o governo francês resolveu ampliar o trabalho. Hoje, a França possui uma rede de 16 Estações de Avisos Fitossanitários, cada uma trabalhando sobre uma área média de 35 mil km², estudando e emitindo avisos sobre as principais culturas daquele país¹. A Estação de Avisos Fitossanitários tem uma função semelhante à de uma Estação Meteorológica. Enquanto esta fez observações de fatores climáticos como temperatura e umidade relativa do ar, precipitação pluviométrica e velocidade do vento, emitindo avisos aos produtores rurais sobre a probabilidade de ocorrência de chuva, geada e granizo prejudiciais aos cultivos agrícolas, a Estação de Avisos Fitossanitários observa a ocorrência de pragas e doenças das principais culturas da região, cataloga, registra o período do ano em que ocorrem, estuda seu ciclo biológico, hospedeiros e inimigos naturais, realiza estudos comparativos entre a época de ocorrência dos inimigos das culturas com os dados climáticos para fazer uma previsão das condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento dos mesmos, avisando ao produtor, através dos meios de comunicação, sobre os riscos de ataque. Seu objetivo não é obter uma proteção total do pomar ou da lavoura, mas, ajudar o produtor a obter uma colheita de valor econômico com o mínimo de tratamentos fitossanitários, porém, aplicados na época certa, com o produto e a dosagem recomendados, evitando despesas inúteis com agrotóxicos, contaminação de alimentos, intoxicação de produtores e consumidores, assim como o rompimento do equilíbrio ambiental pelo abuso de produtos químicos. A isto se soma o trabalho com os produtores rurais, extensionistas e pesquisadores para, através de uma discussão dos principais problemas fitossanitários da região, integrá-los em um objetivo comum que é tirar o máximo proveito da cultura com um mínimo de intervenção no meio ambiente. Entretanto, tais objetivos jamais poderão ser alcançados se não houver o interesse e a participação ativa dos produtores rurais da região onde a Estação de Avisos Fitossanitários estiver instalada, pois eles serão os principais beneficiados. O contato produtor-Estação é fundamental para a troca de informações e experiência já que os resultados não surgem da noite para o dia, mas são conseqüência de levantamentos, observações e estudos acumulados no decorrer dos anos. Atendendo a uma reivindicação da Associação dos Produtores de Maçã de Fraiburgo, Santa Catarina, que desejava melhorar a qualidade do produto através de um sistema eficiente de controle de doenças e pragas, a Secretaria de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura assinou, em 1981, um convênio com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento daquele Estado para, através da Delegacia Federal de Agricultura em Santa Catarina, implantar uma rede de Estações de Avisos Fitossanitários. Em 1982, foram instaladas duas Estações, um em Fraiburgo e outra em São Joaquim (prevendo-se a instalação de uma outra em Lages), sob a orientação técnica do Serviço de Proteção dos Vegetais do Ministério da Agricultura. Os trabalhos iniciais têm se concentrado na observação e controle da sarna da macieira, podridão amarga, ácaro vermelho europeu e especialmente mosca-das-frutas, principais problemas fitossanitários da região.Estes trabalhos tem contado com a colaboração da Epagri e da Cidasc. No período de 1982-87, o número de pomares monitorados com frascos caça-moscas para o controle da mosca-das-frutas passou de 8 para 51, em Fraiburgo; e de 12 para 82, em São Joaquim, com excelentes resultados. Esta experiência pioneira fez com que trabalhos desta natureza fossem incluídos no Plano Nacional de Defesa Sanitária Vegetal-PNSDV, apresentado no IV Encontro Nacional de Fitossanitaristas em novembro de 1986, em Belém, PA³. No Distrito Federal, o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da Delegacia Federal de Agricultura-SERDV/DFA/DF conta já com um laboratório instalado na Fazenda Sucupira do Ministério da Agricultura, Núcleo Bandeirante; e vem realizando, desde 1985, estudos preliminares sobre a ocorrência de moscas-das-frutas em pomares de citros e manga da região.
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