domingo, 5 de outubro de 2008
MILHO TRANSGÊNICO, UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL NO CONTROLE DE PRAGAS
Com um atraso de 10 anos em relação à concorrência internacional, os agricultores brasileiros finalmente iniciaram o primeiro plantio de milho transgênico da nossa história.
A espectativa do setor é que seja cultivado, na safra 2008/09, em torno de 400 mil hectare o que equivale aproximadamente a 4% da área total de milho produzido no país.
Produzido e comercialmente em mais de 100 países, com uma produção total estimada em 705 milhões de toneladas por ano, o milho é uma das mais importantes fontes de alimento no mundo e é considerado o insumo básico para a produção de uma ampla gama de produtos. Na cadeia produtiva de suínos e aves consomem-se aproximadamente 70 a 80% do milho produzido no Brasil..
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho com uma produção de aproximadamente 38 milhões de toneladas no ano de 2005, atrás somente dos Estados Unidos da América (282 milhões de toneladas) e da China (139 milhões de toneladas)
Nos últimos anos, os insetos têm-se tornado pragas limitantes na cultura do milho no Brasil, em particular insetos da ordem lepidóptera como a lagarta-do-cartucho, lagarta-da-espiga e lagarta-do-colmo. Estima-se que elas possam causar prejuízos de até 34% na produção total de milho. Com o aumento da área cultivada com o milho na chamada “safrinha” (três milhões de hectares), fechando o ciclo de várias pragas e doenças, o problema se agravou. Em algumas áreas do Centro-Oeste brasileiro, são necessárias dezenas de pulverizações com agrotóxicos em um único ciclo da cultura, colocando em risco a saúde do consumidor, do trabalhador rural, do meio ambiente e a sustentabilidade econômica da atividade.
O Brasil é o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Possuímos, hoje, 142 produtos registrados para milho, 107 só para as lagartas. Vários casos de resistência pelo uso constante e indiscriminado de inseticidas na cultura do milho já existem no Brasil. Além disso, um dos fatores que mais afeta a saúde dos nossos agricultores é o uso de agroquimicos, responsáveis pela intoxicação de um milhão de pessoas anualmente.
O milho transgênico consiste em uma proposta alternativa para o controle das principais pragas da cultura da cultura. Ela baseia-se na utilização de híbridos de milho derivados de linhagem geneticamente modificada para resistir ao ataque dessas lagartas. Para isso, foi inserido o gene de Bacillus thuringiensis que é a fonte dos genes de resistência nas chamadas plantas-Bt, o mesmo utilizada em formulações comerciais do bio-inseticida B. thuringiensis, de amplo uso na agricultura.
O milho transgênico é largamente cultivado e comercializado na Argentina, Austrália, Canadá, China, União Européia, Japão, Coréia, Filipinas, México, África do Sul, Suíça, Taiwan, Uruguai, Estados Unidos da América, entre outros.
O B. thuringiensis, presente em todos os continentes, é uma bactéria gram-positiva e entomopatogênica, aeróbica ou facultativamente anaeróbica naturalmente encontrada no solo, inicialmente isolada no Japão por Ishiwata e descrita formalmente por Berliner em 1915. Esse microrganismo forma cristais de endotoxinas, proteínas com ação inseticida que atuam antes e durante a fase de esporulação do seu ciclo de vida. Atualmente, existem várias coleções no mundo que contêm milhares de isolados de B. thuringiensis, sendo as várias raças classificadas com base em seu espectro de ação, suas toxinas cristalinas e suas similaridades genéticas.
Em 1901, pesquisadores descobriram que uma epidemia de mortalidade de bicho-da-seda no Japão era devido a uma bactéria. Doze anos depois, na Alemanha, o pesquisador Berliner conseguiu isolar e caracterizar essas bactérias, batizando-as de Bacillus (por sua forma cilíndrica) thuringiensis (em homenagem à região alemã da Turíngia). Em 1938, na França, formulações, contendo colônias dessas bactérias, foram vendidas como inseticida biológico e, em 1954, seu modo de ação foi descoberto. Hoje são 50 diferentes famílias descobertas e organizadas por um código numérico. Como exemplo temos a família Cry1, que atua sobre lepidópteros (borboletas); a Cry3, que atua sobre coleópteros (besouros); e a Cry4, que atua sobre dípteros (moscas e mosquitos), sendo inclusive utilizada no controle biológico de mosquitos vetores de doenças como a dengue.
O que torna as proteínas do Bacillus thuringiensis eficientes e seguras para seu uso como bio-pesticida é seu modo de ação altamente específico. Cada proteína atua de maneira singular em determinada ordem de insetos. Com base em estudos científicos e avaliações que comprovam esta especificidade, pode-se afirmar que estas proteínas não apresentam ação inseticida em insetos benéficos ou inimigos naturais. Por isso, a tecnologia Bt é uma forte aliada à proteção do meio ambiente. Para liberar o núcleo inseticida é necessário que a proteína, em forma de cristal, seja primeiramente ingerida pelo inseto para depois, em ambiente de pH alcalino, ser quebrada em pontos específicos, que liberam este núcleo ativo, ou seja, a molécula tóxica.
No sistema digestivo de humanos e animais superiores, o ambiente é de pH ácido e a proteína é completamente degradada em minutos, tornando-se inativa. Desta forma, a luz da ciência atual, a proteína não apresenta nenhum efeito em animais superiores ou humanos. A proteína é tóxica somente para os insetos-alvo citados, especificamente para lepidópteros (lagartas), os quais possuem, no seu intestino, receptores específicos para essa proteína. Mamíferos não possuem tais sítios de ligação e, portanto, seres humanos, animais e outros organismos não-alvos
De acordo com a CTNBio, históricos de uso destas variedades transgênicas no mundo, aponta para grande acúmulo de informações científicas confiáveis que indicam ser esta variedade tão segura para o meio ambiente e para a saúde humana e animal quanto as cultivares de milhos híbridos que vêm sendo utilizadas atualmente.
A mesma fonte aponta que após dez anos de uso em diversos países, não foi detectado problema algum para a saúde humana e animal ou para o meio ambiente que possa ser atribuído a milhos transgênicos.
É necessário enfatizar, de acordo com os especialistas, que a falta de efeitos negativos resultantes do cultivo de plantas transgênicas de milho não quer dizer que eles não possam vir a acontecer. Risco zero e segurança absoluta não existem no mundo biológico, muito embora já exista um acúmulo de informações científicas confiáveis e um histórico seguro de uso de dez anos que permite afirmar que o milho transgenico Bt é tão seguro quanto as versões convencionais. No entanto, é fundamental que os produtores destas cultivares monitore sistematicamente seus cultivos, observando os vários estágios fonológicos das plantas, o comportamento e a dinâmica do ambiente e, no primeiro sinal de não conformidade, comunicar os eventos as autoridades competente.
De forma geral, a adoção da biotecnologia transgênica na agricultura cresce, desde1996, ao ritmo de 10-12% ao ano, atingiu em 2007 a marca de mais de 114 milhões de hectares espalhados por 23 países, envolvendo cerca de 12 milhões de agricultores em todo o mundo.
De acordo com a comunidade cientifica mundial uma tecnologia que permite a pequenos, médios e grandes agricultores reduzir os custos de produção entre 10 a 15%, aumentar a produtividade até 25%, reduzir em até 60% o uso de agrotóxicos, reduzir a emissão de dióxido de carbono em função da diminuição do uso de equipamentos agrícolas e reduzir até 90% o teor de micotoxinas, como a fumonisinas, altamente carcinogênicas para os seres humanos, não pode deixar de ser vista como uma tecnologia sustentável.
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Um comentário:
Osmar e demais interessados no tema dos transgenicos:
abaixo copio um arquivo q traduzi ha algum tempo, sobre os efeitos dos transgenicos na saude humana, c/ publicacoes cientificas devidamente bibliografadas. Caso nao seja suficiente a informacao sobre os riscos ah saude humana, sugiro uma verificacao no aumento do uso de agrotoxicos depois da introducao dos ogms.
Estou ah disposicao p/ esclarecimentos.
Abc,
Nelson Jacomel Junior.
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Engenharia Genética e a Pesquisa Omitida da Saúde: Velhas Perguntas Ainda Sem Respostas
Terje Traavik and Jack Heinemann
Tradução: Nelson Jacomel Junior
Introdução
Algumas das mais cruciais perguntas a respeito dos efeitos da engenharia genética (EG) e dos organismos geneticamente engenheirados (OGE) sobre a saúde foram apresentadas a mais de vinte anos . A maioria delas ainda não foram respondidas, ou tem respostas insatisfatórias.
Como Mayer e Stirling disseram, nós acreditamos que "no final é freqüente o caso em que aqueles que escolheram fazer as perguntas, encontram as respostas". Será que outros vinte anos terão que passar antes que a sociedade compreenda a necessidade urgente de realizar-se pesquisa de risco e ameaça, de maneira independente, financiada com recursos genuinamente públicos?
O momento para tal investimento é agora, de modo que uma nova cultura científica baseada em hipóteses calcadas no Principio da Precaução (PP) possa descobrir outras perguntas sobre a segurança, possivelmente ainda mais importantes.
No presente artigo vamos ater-nos a ameaça à saúde relacionada com as plantas geneticamente engenheiradas usadas para a produção de ração, com algumas notas breves sobre as vacinas geneticamente engenheiradas e também com as novas nano-biotecnologias de RNAi. Nosso foco é este, não porque não reconheçamos a fenomenal ameaça indireta a saúde publica colocada pelos temas social, cultural, ético e econômico ou as complexidades apresentadas nos ambientes legal e de regulamentação, mas por razões de espaço.
No contexto específico da avaliação de alimentos ou de rações, uma ameaça, ou a condição para tal, pode ser definida como um agente biológico, químico ou físico contido em um alimento com potencial para causar um efeito adverso para a saúde. As ameaças hipotéticas dos alimentos GE, isto é, aquelas ameaças que até o momento se concretizaram, estão em algumas poucas categorias genéricas.
Primeiro, existem aquelas ameaças que estão relacionadas com a integração imprecisa e aleatória dos transgenes no genoma da planta recebedora, a incerteza relacionada com os efeitos diretos e indiretos dos polipeptídios produzidos pelo transgene, ou a incerteza relacionada aos tipos e circunstâncias que promovam a absorção e a instalação do DNA exógeno no trato gastro-intestinal dos mamíferos . A segunda categoria é aquela que pode vir da produção proposital de ameaças potenciais tais como os alergênicos ou produtos farmacêuticos poderosos.
Um número de preocupações científicas surgiu em conexão com a saúde pública e animal.
Nas seções que se seguem nós discutiremos, com algum detalhe, algumas delas. Outras foram discutidas extensa e recentemente em excelentes revisões .
Nossa contribuição esta baseada na "ecologia do gene", um novo campo científico, transdiciplinar com a intenção de prover um conhecimento holístico baseado no Principio da Precaução .
Algumas das preocupações que apontamos serão também relevantes para avaliação ambiental de risco dos OGEs devido ao fato que os processos discutidos podem ter lugar em um ecossistema qualquer do mesmo modo que em um ecossistema que inclua em sua escala os seres humanos.
Nós sabemos se qualquer alimento ou ração GE é seguro para consumo?
Para um produto complexo como são os alimentos e rações, uma abordagem reducionista que analise componentes individuais in vitro é insatisfatória, e não pode esclarecer temas importantes de segurança. Apesar das necessidades óbvias, poucos trabalhos propondo reconhecer os efeitos dos ácidos nucléicos GE ou alimento/ração GE em consumidores animais ou humanos, tem sido publicados em journals . Existe um consenso, segundo o qual, os efeitos observados em alguns trabalhos publicados devem ser experimentalmente repetidos. Até o presente momento, isto não tem sido feito.
A maioria dos estudos com arraçoamento animal realizados até o momento foram delineados exclusivamente para demonstrar diferenças nos sistemas de criação entre os OGE e seus similares não geneticamente modificados. Os estudos delineados para revelar efeitos psicológicos ou patológicos são muito poucos, e eles demonstram uma tendência preocupante: os estudos realizados pela industria não encontram problemas, enquanto que estudos de grupos de pesquisa independente seguidamente revelam efeitos que deveriam merecer imediata repetição, confirmação e análise de sua extensão. Tais repetições de estudos não tem sido realizadas. Há dois fatores principais contabilizados para esta situação: A inexistência de fundos para a pesquisa independente, e a relutância das indústrias produtoras em entregar material GE para análise .
Podemos basear-nos no fornecimento das seqüências de DNA transgênico por parte das indústrias produtoras de alimentos/rações GE?
Se as seqüências de DNA transgênico apresentadas nas notificações diferem daquelas seqüências inseridas encontradas em PGEs, a avaliação de risco feita a priori da aprovação das PGEs para comercialização, não necessariamente apresentará os riscos potenciais associados com as PGEs.
Os eventos transgênicos mais intensamente estudados são:
milho transgênico Bt, Mon810
milho transgênico Bt e glufosinato, Bt176
milho transgênico glifosato, GA21
milho transgênico glufosinato T25 (Liberty Link)
soja transgênica glifosato, GTS 40-3-2
Mesmo entre os mais intensamente estudados e algumas das PGEs comercialmente mais antigas, trabalhos independentes recentes revelaram que ocorrem rearranjamentos nas inserções transgênicas e que a natureza dos rearranjamentos variam. Foram relatadas deleções (Mon810, GA21, Bt176), recombinações (T25, GTS 40-3-2, Bt176), repetições alinhadas ou invertidas (T25, GA21, Bt176) e fragmentos transgênicos rearranjados e espalhados em todo o genoma .
As técnicas de transgenia de modificação tendem a introduzir tais rearranjamentos porque os DNA exógenos transferidos em plantas elicitam uma resposta à "ferida", a qual ativa enzimas reparadoras de nucleases e do DNA. Isto pode resultar ou na degradação do DNA a ser inserido, ou na inserção de cópias rearranjadas no DNA da planta . Adicionalmente, a natureza dos DNAs construídos usados para fazer plantas transgênicas pode influenciar nas tendências do rearranjamento para um dado evento transgênico. Alguns elementos genéticos nos "construídos" podem agir como pontos de ação e elicitar uma recombinação em alta freqüência .
Enquanto antigamente entendia-se que a integração dos “construídos” transgênicos ocorria aleatoriamente em locais do genoma da planta recebedora, atualmente tornou-se claro que os locais de integração são seguidamente concentrados, ou próximos, dos elementos tais como retrotransposons (T25, Mon810, GA21) e em seqüências repetidas (milho Bt11) , e isto coloca riscos adicionais. Primeiramente, introduzindo um novo promotor ou um novo enhancer motifs as inserções transgenicas nestes elementos ou próximos deles, pode direcionar para padrões de expressão temporal ou espacial dos genes das plantas, localizados próximos ou mesmo afastados do gene inserido. Secundariamente, um promotor retrotransposon LTR forte pode regular superiormente o nível da expressão do transgene. Terciariamente, retrotransposons podem começar a "saltar" sobre a influência de fatores da ação transversal requerida pelo gene inserido . Todos estes eventos podem ter efeitos imprevistos na estabilidade genética dos OGEs, e do mesmo modo, em seus valores nutricionais, alergenicidade e conteúdos intoxicantes. Estes processos putativos representam áreas de pesquisa omitida no que diz respeito aos efeitos do OGEs sobre a saúde.
Os DNAs transgênicos e suas proteínas são absorvidos a partir do trato Gastro intestinal (TGI) dos mamíferos?
Se o DNA e as proteínas dos OGEs persistem no, e são absorvidos pelo, TGI dos mamíferos, isto poderia, em última instância, teoricamente, como será apresentado abaixo, conduzir ao desenvolvimento de condições de doenças crônicas. O destino e conseqüências da persistência do DNA e sua absorção, entretanto, não foram extensivamente estudados, e portanto representam outra área de incerteza conectada com as PGEs.
Tem sido geralmente apontado que o DNA e as proteínas são efetivamente degradados no TGI de mamíferos. Isto tem sido baseado em assunções que nunca foram sistematicamente examinadas . Um pequeno número de publicações recentes tem demonstrado que o DNA exógeno e mesmo as proteínas podem escapar da degradação, persistindo no TGI e, ainda, sendo absorvidos pelos intestinos e transportados pelo sangue para os órgãos internos em versões biologicamente sensatas . Tais observações não devem ser entendidas como inesperadas, já que artigos científicos dos anos 90 indicam fortemente que esta era uma área de pesquisa omitida, tal como encontrado em um numero de relatórios .
Resumindo sucintamente, há evidência que fragmentos relativamente longos do DNA sobrevivem por longos períodos depois da ingestão. O DNA pode ser detectado nas fezes, na parede intestinal, nas periféricas células brancas do sangue, no fígado, baço e rins, e o DNA exógeno pode ser encontrado integrado no genoma recebedor. Quando animais em gestação foram alimentados com DNA exógeno, fragmentos podem ser encontrados em pequenos "clusters" de células em fetos e neonatais. O estado de preenchimento do TGI e a composição da ração podem influenciar a persistência do DNA e sua absorção. Misturas de DNA com proteínas ou outras macromoléculas podem protege-lo contra a degradação.
Até o presente apenas dois relatórios publicados investigaram o destino de DNA exógeno/transgênico em humanos . Logo, as conseqüências da persistência e absorção do DNA representam ainda outra área de pesquisa omitida. Extrapolando a partir de um número de experimentos em culturas celulares de mamíferos e em animais de laboratório, é pertinente concluir que em alguns casos a inserção do DNA estrangeiro pode conduzir a alterações na metilação e padrões de transcrição do genoma da célula recebedora que resultam em níveis imprevisíveis da expressão do gene e seus produtos. Ainda mais, mesmo pequenas inserções podem resultar no, assim denominado, processo de "desestabilização", o ponto final do que podem ser células cancerosas malignas .
A epidemia de BSE/ nova variante da Doença de Creutzfeld-Jacob causada pelas proteínas prion dolorosamente ilustram o fenômeno da persistência das proteínas, sua absorção e efeitos biológicos. Duas publicações recentes indicam que este fenômeno pode ser mais comum do que anteriormente previsto . Uma característica das doenças causadas por prions e um certo número de outras doenças degenerativas, por exemplo, as doenças de Alzheimer e de Huntington, é a deposição de "fibrilações amilóides". Estudos recentes indicam que qualquer proteína pode adotar uma posição conhecida como "amilóide" quando submetida a condições ambientais apropriadas. E desconhecido se estas condições são mais propensas de ocorrer quando as proteínas expressam-se em diferentes espécies e em concentrações muito diferentes, como e o caso dos alimentos/rações GE que já estão no mercado.
As conseqüências da persistência da proteína e sua absorção variam em uma dada situação. De modo geral, existe a possibilidade de moléculas tóxicas, imunogenicas/alergenicas ou carcinogênicas acessarem os organismos via células nas paredes do TGI. A persistência da toxina Bt Cry1Ab nas fezes significa um potencial para a disseminação nos campos através do esterco de animais. Os efeitos ecológicos, por exemplo sobre as larvas de insetos e sobre minhocas , são, até o momento, um tema de especulação.
O conteúdo protéico dos alimentos GE foi alterado de maneira imprevisível?
Transgênicos e genes de plantas regulados superiormente podem causar a produção de substancias intoxicantes, antinutrientes, alergênicas e putativamente, também carcinogênicas ou co-carcinogênicas. A concentração de uma dada proteína pode variar de acordo com sua localização (ou localizações) no genoma da célula hospedeira do DNA GE construído, e com fatores ambientais que influenciem a atividade dos elementos reguladores dos transgênicos, por exemplo, o promotor 35S CaMV. Os efeitos biológicos de uma dada proteína transgênica, por exemplo a toxina Cry1Ab Bt ou o inibidor a-amilase originado dos feijões quando expressos por ervilhas , podem ser imprevisivelmente influenciados por modificações pós-translacionais, divisões alternativas , start codons alternativos para transcrição, leituras quiméricas das molduras resultantes da integração dentro das molduras lidas de um gene de uma planta, e formações complexas com proteínas endógenas de plantas.
A influência da inserção do DNA exógeno nos padrões de expressão dos genes endógenos da planta pode variar com os fatores ambientais, o(s) locai(s) de inserção, o número e a estabilidade dos genes inseridos, os efeitos do promoter transgênico, os padrões da metilação dos inseridos, e a posterior transformação mutagenica na codificação da proteína transgênica e assim, as seqüências regulatórias. Mesmo a mudança de um único nucleotídeo isolado pode afetar as propriedades de uma proteína, ou pode criar um novo motivo de transcrição fator-colante. Ainda faltam estudos detalhados destes fenômenos em condições identificáveis, e assim, estamos novamente frente a frente com mais uma área de pesquisa omitida.
Os alimentos ou rações GE podem causar alergias?
Uma das maiores preocupações de saúde relativas aos PGE é que o produto transgênico, por exemplo uma toxina Bt, mudando a expressão dos genes endógenos das plantas, ou as reações químicas que ocorrem durante o cozimento de alimentos novos, podem resultar na exposição a componentes alergênicos. A avaliação de risco dos alergênicos regularmente segue uma árvore de decisão de alergenicidade . Estas "árvores" são baseadas em testes in vitro que comparam um limitado número de estruturas, usualmente apenas uma, da proteína transgênica com alergênicos conhecidos. Logo, estas comparações esperam que a proteína isolada para o teste esteja entre aquelas proteínas produzidas para o mesmo gene na PGE. Mas, de fato, este não é o caso, porque os testes de alergenicidade são usualmente realizados com a bactéria, e não com a versão produzida da proteína transgênica in planta. A glicosilação invariavelmente acontece nas plantas, mas não na bactéria, assim esta forma de modificação pós-translação de ambas, as proteínas transgênicas e as proteínas endógenas, não pode ser testada. As características alergênicas das proteínas e também suas resistências à degradação no organismo, podem ser afetadas pela glicosilação. Outras modificações de proteínas também podem ocorrer, ampliando a imprevisibilidade dos produtos transgênicos .
Outra importante questão relacionada à alergenicidade é se o acompanhamento, depois do consumo, será capaz de trazer alguma informação útil sobre os alergênicos em alimentos GE. Por diversas razões isto dificilmente ocorrerá . O tratamento da alergia é sintomático, qualquer que seja a sua causa. O paciente alérgico freqüentemente representa um caso isolado, e o agente alergênico potencial, raramente identificado.
O número de visitas médicas relacionadas com alergia não é contabilizado. Mesmo visitas repetidas devidas a alergênicos bem conhecidos não são contadas como parte de qualquer sistema de vigilância estabelecido. Assim, durante a ocorrência do Episódio Starlink em outubro de 2000 foi muito difícil avaliar o Starlink (gene contendo a toxina Bt em Cry9C) na condição de alergênico humano . Uma razão adicional para isto foi que os testes ELISA, usados pelo FDA, que não encontraram anticorpos anti-Cry9C em pacientes humanos suspeitos, eram duvidosos, porque foram usados antígenos recombinantes de bactérias ao invés de versões do milho Cry9C aos quais os indivíduos haviam sido expostos.
Estudo de Caso: toxinas Bt em PGEs Bt-transgênicas
É muito importante estarmos conscientes do fato que as toxinas Bt expressas em PGEs nunca foram cuidadosamente analisadas, e do mesmo modo, as suas características e propriedades não são conhecidas. O que está claro desde o início, entretanto, é que elas são enormemente diferentes das protoxinas Bacillus thuringiensis usadas na agricultura e na floresta conduzidas nos sistemas tradicional e orgânico, por decênios . A diferença é claramente evidente no nível dos genes, já que as versões encontradas em GEOs são engenheiradas para produzir toxinas Bt ativas. Por extrapolação, estas versões tem um número de características biológicas potencialmente indesejadas, variando em um leque desde a solubilização da proteína em condições naturais e efeitos em células de insetos e mamíferos, à persistência e efeitos não-objetivos no meio ambiente . Adicionalmente, são desconhecidas as modificações pós-translacionais que podem influenciar conformações, alvos celulares e efeitos biológicos das toxinas expressas pelas PGEs, e, portanto, mais uma vez nós identificamos uma área de pesquisa omitida.
Durante os últimos anos, surgiu na literatura , um número de observações que pode ser entendido como "alertas iniciais" de riscos para a saúde e para o meio ambiente. A maioria deles, entretanto, não tem sido acompanhada por estudos continuados.
Estudo de Caso: PGEs, transgênicas, tolerantes ao glifosato (Roundup Ready)
O glifosato mata as plantas ao inibir a síntese da enzima 5-enolpirubol-shikimate-3-fosfato (EPSPS), necessária para a produção de aminoácidos importantes. Alguns microorganismos têm uma versão do EPSPS que é resistente a inibição do glifosato. O transgênico, cp4 epsps, usado em cultivos geneticamente modificados foi isolado de uma raça da Agrobacterium. A idéia, é claro, foi combinar o uso de PGEs e do herbicida. Estudos recentes indicam que em alguns casos tais PGEs são associadas com maior uso de glifosato do que suas assemelhadas convencionais . Um número muito restrito de estudos experimentais tem sido dedicado aos efeitos da PGEs sobre a saúde ou meio ambiente ou sobre o próprio herbicida. Muitos destes estudos podem ser considerados "primeiros avisos" dos potenciais riscos para a saúde e para o meio ambiente, e eles deveriam ser repetidos para confirmar a extensão destes resultados . Conseqüentemente: mais outra área de pesquisa omitida.
Será que o vírus 35S CaMV é inativo em células de mamíferos?
O vírus do mosaico da couve-flor é um para-retrovirus replicante carregador de DNA empregado na transcrição reversa (Poogin et al., 2001). Um dos promotores virais, o chamado 35S, é um forte "promoter" genérico para plantas. Ele tem sido usado para garantir a expressão dos transgenes na maioria das PGEs comercializadas até o momento.
As indústrias proponentes tem afirmado incondicionalmente que o 35S é um promoter exclusivo para plantas e portanto, não consegue, mesmo teoricamente, representar um item de ameaça em alimentos ou rações .
Adicionalmente às pesquisas em fermentos e em Schizosaccharomyces pombe existem pesquisas publicadas indicando que o 35S CaMV pode ter potencial para o acionamento de transcrição em sistemas mamíferos . E a prova final tornou-se disponível durante os últimos dois anos. Primeiro, a atividade do 35S foi demonstrada em culturas de células de fibroblastos , em seguida em células de hamsters , e muito recentemente um de nos (TT) demonstrou a expressiva atividade do 35S em culturas de células assemelhadas a enterocitas humanas . Tais tipos de células estão presentes na superfície de intestinos humanos. Entretanto, não há estudos publicados que pesquisem a atividade in vivo do 35S CaMV e esta é uma área obvia área de pesquisa omitida.
O uso de genes marcadores resistentes a antibióticos (p.ex. nptII) pode representar riscos a saúde?
O antibiótico kanamicina é usado extensivamente na engenharia genética de cultivos como um marcador seletivo, inter alia em eventos para variedades de colza como o MS1Bn x RF 1 Bn e Topas 19/2.
Um marcador seletivo é um gene inserido em uma célula ou organismo que permite que a forma modificada seja reconhecida em sua expressão e multiplicada seletivamente enquanto organismos não modificados são eliminados. Na engenharia genética de cultivos, um marcador seletivo é usado em laboratório para identificar células ou embriões portadores das modificações que a engenharia pretende comercializar. O gene selecionado é usado uma vez no laboratório, mas posteriormente o cultivo geneticamente modificado tem o gene marcador em cada uma de todas as suas células.
Ha múltiplos e bem conhecidos mecanismos para a resistência cruzada a antibióticos de um tipo particular . A kanamicina é um membro da família dos antibióticos aminoglucosideos. Existem aproximadamente 17 classes diferentes de enzimas modificadoras aminoglucosideas. Algumas destas desativam até quatro aminoglucosideos diferentes. Pesquisada a resistência cruzada entre kanamicina e outros aminoglucosideos, p.ex. gentamicina e tobramicina, identificou-se uma variabilidade marcante entre os isolados . Todos estes antibióticos mencionados são usados no tratamento de doenças humanas.
Apesar de que muitos engenheiros genéticos acreditam que a kanamicina não é mais empregada na medicina, há evidência que o antibiótico é usado extensivamente para algumas aplicações .
Observações finais: Daqui, para onde vamos?
Debatemos, com algum detalhe, uma quantidade de perguntas selecionadas sobre o risco relacionado com a primeira geração de OGEs transgênicos. Há um número muito maior de temas de risco. Entre eles há temas de Transferência Horizontal de Genes (THG) , a nova geração de OGEs multitransgênicos com propósitos farmacêuticos e industriais , perguntas sobre a segurança relativas ás vacinas GE , as novas abordagens da nanobiotecnologia e as aplicações das pequenas linhagens-duplas (ds) de RNAs (que podem causar RNAi) empregadas para uma gama de propósitos médicos . Além disto, temos "as perguntas ainda não feitas", e temos o problema de se os métodos disponíveis e a estrutura regulamentadora serem ou não capazes de identificar e gerenciar os riscos imaginados no momento em que eles vierem a tornar-se realidade.
Em publicações recentes foi demonstrado que os métodos de amostragem e detecção atualmente empregados podem falhar na detecção de materiais GEs em alimentos e rações . Noutro artigo foi demonstrado que os eventos THGs, os quais, potencialmente, portam conseqüências muito sérias para a saúde publica, não seriam detectados em tempo para qualquer ação preventiva de significância . E, foi demonstrado que as técnicas dsRNA não são "alvos de precisão cirúrgica" como indicado inicialmente .
Portanto, resta-nos um grande número de perguntas não respondidas quanto aos temas de risco, adicionalmente à uma vasta área de pesquisa omitida, e isto, justamente quando há uma forte tendência ao "take-over" de corporações sobre instituições de pesquisa e cientistas custeados com recursos públicos .
Como cidadãos e profissionais devemos nos unir para reverter a situação atual. Pesquisa independente custeada com recursos públicos precisa tornar-se um tema político "quente". Este poderá ser o remédio mais eficiente para as cronicamente irrespondidas perguntas e para a aquisição corporativa da ciência. Para concluir, mais uma vez citamos Mayer e Stirling : "A decisão sobre as perguntas a serem feitas e as comparações a serem feitas, deve ser um processo de inclusão e não uma decisão isolada de experts". Mas então, novamente, em quem a sociedade deve se basear para obter respostas e avisos quando chegar o tempo em que todas as pessoas da pesquisa científica trabalharem direta ou indiretamente para as indústrias produtoras de EG?
Sobre este relatório e seus autores
Permanecem muitas perguntas científicas cruciais a respeito dos efeitos da engenharia genética e dos organismos geneticamente modificados sobre a saúde. Neste relatório, os autores identificaram alguns dos perigos putativos sobre a saúde relacionados com as plantas geneticamente modificadas usadas como alimento ou como ração. Eles também identificaram inúmeras áreas de pesquisa omitida, que necessitam de pesquisa urgente. Suas contribuições são baseadas na "ecologia genética", um novo campo cientifico, transdiciplinar, com o propósito de fornecer conhecimento holístico baseado no Princípio da Precaução.
O Dr. Terje Traavik é autor de mais de 180 artigos científicos e capítulos em livros. Ele foi professor de virologia na Universidade de Tromso, na Noruega, de 1983 a 2003. Médico virologista e molecular originalmente, Traavik, posteriormente, adentrou na pesquisa celular e molecular em câncer. Em 1992 ele recebeu o Premio de Excelência da Fundação Erna e Olav Aakre. No início dos anos 90 ele foi o presidente do conselho do programa nacional de pesquisa "Efeitos ambientais da biotecnologia" que foi financiado pelo Conselho de Pesquisa da Noruega. Em 1997 ele criou e tornou-se o diretor científico do GENOK - Instituto Norueguês de Ecologia Genética, e desde 2003 ele também é professor de ecologia genética na Universidade de Tromso.
O Dr. Jack Heinemann presentemente é professor associado na Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Canterbury em Christchurch. Ele é o diretor do INBI - Centro para Pesquisa Integrada em Biosseguranca, na Nova Zelândia, e professor adjunto no GENOK - Instituto Norueguês de Ecologia Genética. Ele está listado no Rol de Experts em Biossegurança das Nações Unidas no Protocolo de Cartagena para Biossegurança. Em 2002 o Dr. Heinemann recebeu a medalha da Associação Neozelandesa de Cientistas Pesquisadores. Ele tem publicado extensamente na literatura da transferência horizontal genética e em biossegurança e em campos da genética bacteriana e biologia molecular.
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