Uma tese de doutorado, uma dissertação de mestrado e a cooperação entre pesquisadores brasileiros, mexicanos e grupos de pesquisa ibero-americanos mostram que a ciência caminha a passos rápidos para buscar soluções a deficiências do corpo em produtos cada vez mais presentes na vida das pessoas.
Os estudos sobre a banana verde, orientados pela pesquisadora Elizabete Wenzel Menezes, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental, da Universidade de São Paulo (USP), chegaram a resultados que podem auxiliar na prevenção de doenças como o diabetes.
As pesquisas com a banana verde indicam que "os carboidratos não-disponíveis presentes na fruta exercem efeitos positivos sobre a fisiologia do intestino grosso de animais, apontando a possibilidade de utilização dessa matéria-prima em alimentos voltados para a prevenção de determinadas doenças crônicas não-transmissíveis", explica a professora Elizabete Menezes.
Farinhas de banana
Os estudos basearam-se em duas amostras de farinhas, feitas a partir do tratamento da banana verde. A primeira farinha foi feita de Amido Isolado de Banana Verde (ABV), obtido de uma planta piloto do México com o fruto local chamado "plátano".
A segunda foi feita a partir de uma Massa de Banana Verde (MBV), variedade Nanicão, obtida após cozimento em água e com casca, descascada, homogeneizada e seca. "Tratam-se de farinhas de banana verde com tratamentos específicos e não de bananas in natura", explica Elizabete Menezes.
Com estas farinhas, as pesquisadoras elaboraram rações e administraram em animais, no caso ratos machos Wistar, por 28 dias. "Os efeitos fisiológicos das rações foram avaliados por curvas de resposta glicêmica, teste de tolerância à glicose (TTG) e perfil de fermentabilidade in vivo. Paralelamente, foi realizada análise histológica de tecido do ceco dos animais para avaliação da proliferação celular", completou a pesquisadora.
Sobre as rações, as pesquisadoras avaliaram suas concentrações de Amido Resistente, Fibra Alimentar e Fração Indigerível e determinaram o perfil de fermentação in vitro no laboratório. Ambas apresentaram alta concentração de carboidratos não-disponíveis, aqueles que o organismo não consegue digerir e absorver naturalmente, diferentes em quantidade e qualidade, mas com alta fermentação.
"Esta alta fermentabilidade foi evidenciada pelo aumento da produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e diminuição de pH tanto in vitro ou in vivo", adiantou Elizabete.
Segundo a pesquisadora, a avaliação dos resultados mostrou efeitos tróficos para o intestino grosso dos animais. "Estas rações, com alta concentração de carboidratos não-disponíveis e fermentáveis, proporcionaram menor secreção de insulina pelas ilhotas pancreáticas dos animais, bem como redução nos níveis de insulina plasmática para manter glicemias semelhantes", finaliza.
Teste em humanos
O projeto caminha agora para uma avaliação de forma mais detalhada e ampla da potencialidade da farinha da banana verde como um ingrediente funcional, com ensaios clínicos em humanos.
Segundo a pesquisadora Elizabete Menezes, o projeto tecnológico para produção da farinha, em escala piloto, já foi padronizado e os ensaios clínicos com humanos já foram validados em outros projetos do grupo e estão sendo iniciados no Laboratório de Química, Bioquímica e Biologia Molecular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da USP.
Cooperação internacional
O estudo desenvolvido pelas pesquisadoras faz parte do projeto Composição, Estrutura, Propriedades Biológicas de Carboidratos e sua Utilização em Alimentos, apoiado pelo Cyted e CNPq, com a coordenação internacional do professor Franco M. Lajolo e com a nacional da professora Elizabete Menezes.
O projeto, finalizado em 2006, teve como meta o estudo de fontes regionais de carboidratos e contou com o apoio de grupos de pesquisa ibero-americanos, os quais possibilitaram a troca de informações científicas e de métodos analíticos entre os grupos e o estudo realizado no Brasil, além do fornecimento de farinhas produzidas por outros países.
Um dos produtos de banana estudados, o amido isolado de plátano verde, foi elaborado e fornecido pelo Instituto Politécnico Nacional, da cidade de Yautepec, do Estado de Morelos (México).
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